segunda-feira, 28 de março de 2011

Vítimas de bullying revelam omissão da escola e medo de falar sobre tema

26 de março de 2011

Vítimas de bullying revelam omissão da escola e medo de falar sobre tema

G1 conversou com internautas que revelaram experiências e traumas; histórias mostram falta de atitude das instituições de ensino

Fernanda Nogueira e Alex Araújo
Do G1, em São Paulo e Belo Horizonte

Mesmo com casos diferentes um do outro, pessoas que sofrem ou sofreram bullying na escola revelam dois problemas em comum. Um deles é a dificuldade para falar sobre o problema e fazer denúncia, e a outra é a falta de atitude de professores e diretores das instituições de ensino.

O G1 pediu relatos de internautas e entrou em contato com alguns dos leitores que se manifestaram. Alguns deles pediram para não se identificar. Veja abaixo os relatos de vítimas de intimidação nas escolas.

'Um professor participava das brincadeiras de mau gosto'
“Tenho assimetria crânio facial e eu havia mudado de escola. Sofri e muito com os meus colegas de classe, sendo caçoado. Muitas vezes pegavam o meu celular, desmontavam e dividiam entre eles. Recebi apelidos, chegaram até a fazer uma história em quadrinhos para me zoar. Usaram até um programa de rádio da escola para fazer isso.

Um professor participava das brincadeiras de mau gosto que faziam comigo. Entrava na zoeira. Ele ria. Acaba incentivando os outros em vez de repreender. Cheguei a falar para ele que não estava gostando daquilo, que não achava que era uma atitude de professor. Ele me ignorou simplesmente. Nunca procurei a direção da escola.

Eu tinha dores de cabeça muito fortes, ficava muito nervoso, acabava descontando a raiva em quem só tinha amor a me oferecer. Descontava nos meus pais, meu rendimento escolar caiu. Até chegar a um limite em que meus pais perceberam. Comecei um tratamento psicológico e isso me ajudou a superar esta dificuldade."

- Diogo Sarraf, 25 anos, gerente de projetos, São Paulo (SP)

'Outro dia meu filho chegou todo sujo de ovo'
“Meu filho sofre bullying na escola. Quem faz isso é um garoto da sala dele. Começou no ano passado. No último dia 15, eu estava saindo para ir à escola reclamar disso e ele chegou chorando, todo sujo de ovo. Estava muito nervoso, tremendo. Ele disse que já estava cansado de ir à coordenação. Falou: ‘Mãe, ela chama a gente, dá uma bronca nele na minha frente e diz para me pedir desculpa. Depois, começa tudo de novo’.

Fui à escola e exigi que tomem uma providência. Quero um documento assinado pelos pais do menino em que se comprometem a proibir que o filho deles continue fazendo isso. Agora me pediram um tempo para fazer o documento e chamar os pais do garoto. Dizem que estou fora da lei, mas estou achando a escola muito passiva em relação a esse garoto. Não é só com meu filho”

- Simone, 42 anos, estudante de pedagogia, de Marabá (PA), mãe de um aluno de 13 anos

'Recebi todo tipo de apelido por ter engordado'
“Aos 8 anos me mudei para uma nova cidade. Acho que por não conhecer ninguém. Ficava sozinha e engordei. Aí, começaram apelidos de baleia, bicho, dragão. Como era uma cidade pequena, tinha pouca gente na escola. Todo mundo sabia. As pessoas riam de mim. Os meninos falavam e outros achavam graça.

Uma vez, na aula de artes, a professora pediu para descreverem os colegas. O menino que mais tirava sarro de mim me descreveu. Escreveu todos meus apelidos. A sala toda virou para rir de mim. Saí correndo da sala. A professora não fez nada. Ela leu os apelidos que colocaram. Um dos meninos era filho da coordenadora da escola e ela não fazia nada. Falei para ela. Ela deu um sermão na sala e só. Não tinha coragem de contar para os meus pais. Queriam parecer que era normal, que não acontecia nada.

Até hoje tenho vergonha de falar em público por isso, mas consegui ser oradora da minha turma na formatura de jornalismo e sou professora de inglês.”

- Carolina Barroso Ahmed, 25 anos, professora de inglês, Natal

'Minha filha era perseguida pelos colegas'
Minha filha sofria bullying desde 2008, sofria com as perseguições feitas pelos colegas em um colégio particular. Ela era chamada de baleia, fofucha, baleia fofucha, caldeirão. Minha filha sempre foi meiga e estudiosa, mas por causa do problema ficou retraída, chateada e isso refletiu em notas baixas. Ela teve problemas na aprendizagem. Minha filha começou a ter erros ortográficos, chorava e pedia para não ir à escola.

Ela, na época, tinha cerca de 68 quilos e 1,50m de altura. Com isso ela teve problemas na coluna e não podia fazer exercícios que exigissem muito do corpo. E isso também era motivo para zombação. O constrangimento foi tanto que ela não participou das olimpíadas em 2009 porque os meninos gritavam da arquibancada para xingá-la.

Procurei a escola para conversar e apresentei um projeto de como trabalhar a discriminação e o respeito ao próximo, mas a escola optou por tratar a questão no nível da religiosidade.

Os colegas da turma chegaram ao ponto não querer fazer trabalho em grupo com ela. Uma vez, ela foi a uma festinha de aniversário e voltou chorando porque os meninos não deixaram-na brincar, alegando que ela era gorda e que iria quebrar os brinquedos.

Ela fez análise e arteterapia. As duas atividades trouxeram bons resultados e melhorou a autoestima dela.

Mesmo depois que ela mudou de colégio, em 2011, ela está melhor. Ela ainda fica na defensiva, mas está um pouco mais espontânea e madura. Ela faz tratamento médico com endocrinologista e nutricionista, e também caminhadas. Um ponto positivo desta história toda é que o pai dela também está fazendo dieta e os dois estão emagrecendo."

- Psicóloga, mãe de uma estudante de 12 anos de Belo Horizonte

'Um professor me chamou de burra dentro da quadra'

“Jogava vôlei em uma escola e fui participar dos jogos escolares. No jogo, faltavam dois pontos para acabar o jogo. Errei o saque e o professor, dentro da quadra, começou a me xingar.

Começou a falar que eu era burra e que não sabia jogar. Fui embora chorando. No outro dia, começaram a me xingar. Começou a acontecer repetidamente. Fiquei tímida. Tinha medo de ir para a escola. Ficava na sala nos intervalos. Saí das aulas de educação física. Adoecia, inventava febre para não ir para a escola.

Ficaram sabendo que foi ele, todos viram, mas como na época todo mundo achava que o comportamento dele era normal, ninguém fez nada. Nunca falei com ele nem para a diretora.

Fui fazer educação física na faculdade. O tema da minha monografia é o bullying. Agora vou fazer uma palestra na escola que estudei e pretendo contar o que aconteceu comigo.”

- Gabriela Loures, 24 anos, formada em educação física, Açailândia (MA)

'Fui humilhada na escola por ser negra e ter espinhas no rosto'

“Sofri bullying desde a quinta série, quando comecei a ter espinha, a crescer, sou muito alta, sou negra. Juntavam os apelidos racistas e o fato de ter espinhas no rosto. Me alopravam e humilhavam muito. Estudei oito anos nessa escola e nenhum menino nunca quis ficar comigo. Afetou muito minha auto-estima, me sentia feia, excluída.

Professores viam, chamavam atenção, mas não faziam mais nada. Não adiantava. Depois voltava tudo de novo. Eu contava para minha mãe. Ela ficava chateada, mas a gente se conformava porque todo mundo passa por isso na vida. Ela chegou a falar com professores, mas nada podia ser feito. Eles chamavam atenção, mas depois voltava tudo de novo. Acho que podiam ter pego mais pesado, ter falado de maneira que os alunos levassem mais a sério, tivessem mais consciência.

Tudo o que aconteceu me afeta até hoje, me preocupo bastante com a aparência, mas consigo sair e paquerar, diferente daquela época.”

- Marjorie Pereira, estagiária em finanças, 22 anos, São Paulo (SP)

Fonte: G1


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