segunda-feira, 18 de julho de 2011

Sugestões de leitura para o 3º e 4º bimestre-Projeto Educação EMES Cidadania

JUSTIÇA
,
UM

DEVER

ÉTICO
Não podemos mais invocar as barreiras,nacionais, raciais ou ideológicas que nos separam, sem repercussões destrutivas.Dentro do contexto de nossa nova interdependência, considerar os interesses dos outros é claramente a melhor forma de auto-interesse.
XIV Dalai Lama, Tenzin Gyatso
Educador, esta é a primeira aula, sobre o tema que lhe dá título. Escolhemos abordar “Justiça: um dever ético” a partir de uma discussão sobre regras de convívio social, por considerarmos que a convivência é a base da construção de uma noção de justiça pautada em valores éticos. Trata-se de propiciar uma reflexão com os alunos considerando asseguintes idéias:
A noção de justiça só se constrói na relação com o outro, portanto na convivência familiar, comunitária e social.A concepção de justiça e os valores éticos podem se transformar, assim comoa sociedade também se transforma.A internalização de parâmetros éticos é importante para nortear as escolhas e ações da vida cotidiana.Para propiciar essas reflexões, os alunos irãoparticipar da atividade “Construindo aconvivência” , que traz um roteirocom situações desafiadoras, envolvendo a convivência numa ilha imaginária. E da atividade “O xis da questão” , que propicia reflexão sobre coisas justas e injustas, na sociedade e no cotidiano. Além disso, os alunos irão desenvolver uma interessante atividade de Matemática,“Divisão justa? As três divisões do homem quecalculava” Finalmente estamos indicando, para leitura em momentos extra-aula, o livro
O que fazer?Falando de convivência
(Iacocca, 1999), quediscute, de maneira divertida e inteligente, aimportância da convivência nas relaçõescotidianas, atualmente e em outros momentosda história humana.
ATIVIDADE

CONSTRUINDO

A

CONVIVÊNCIA
Desde que nascemos, necessitamos e dependemosuns dos outros. O objetivo desta atividade é justamente fazer os jovens perceberem apossibilidade de convivência pacífica e solidáriacom o “outro”.Esta atividade possibilita aos alunos aoportunidade de constituir uma “mini-sociedade”,de elaborar leis, regras de convivência, administrarconflitos, dividir tarefas, enfim, de serem autores eatores de sua história. Embora se trate de umasituação fictícia, na ilha deserta, eles estarão otempo todo lidando com seus valores, suas crençase sua visão de mundo. Além disso, é importanteficar atento para que os alunos compreendamalgumas questões
:
As regras não são imutáveis, elas mudam ao longo da história e são produto da ação humana.As regras de convivência e as leis existem para regular a vida social. Geralmente as regras de convivência estão ligadas às práticas cotidianas e são informais e flexíveis, enquanto as leis são formalizadas edevem valer para todo o conjunto de uma determinada sociedade.Apesar de vivermos em um mundo onde acompetição permeia a vida em sociedade(competição nos esportes, no mercadoglobalizado, no trabalho, na escola), existemmaneiras alternativas e eficientes de solucionar problemas, tanto no cotidiano,como na própria sociedade, por meio da cooperação. É preciso considerar também que nem toda competição é perversa (nos esportes, por exemplo).



EDUCAÇÃO E CIDADANIA
APROFUNDANDO
A convivência é uma condição absolutamente fundamental, tanto nas relações pessoais cotidia-nas como nas relações entre grupos, classes e partidos. A consideração do interesse do outro –grupo ou indivíduo – tem um contraponto na garantia de que as minhas idéias, pensamentos e reivindicações também devem ser levadas em conta..Valorizar a convivência não significa mascarar as contradições de uma sociedade cada vez maiscompetitiva e excludente, nem anular-se pessoalmente. Tanto no plano social como no individual existem conflitos, contradições e lutas. Não se tra-ta de abafar o conflito. Muito pelo contrário, as transformações pessoais, sociais, políticas e econômicas são resultado de muitas lutas em que entram em jogo interesses individuais e de diversos setores da sociedade. No entanto, na maioriadas vezes, só a partir das negociações e acordos é que se tornam possíveis algumas mudanças.A partir de que momento, na história da humanidade, os homens passaram a estabelecer regras de convivência? Por que surgiram as primeiras regras e leis que regulam a vida societária? São perguntas que nos fazem pensar sobre o sentido davida em sociedade. Esse tema tem sido objeto dereflexão por parte de pensadores em diversas épocas.
Para Thomas Hobbes, filósofo inglês do sécu-lo XVII, os homens são “tão iguais” que, apesar de algumas diferenças, como a maior força física dealguns, ou a maior habilidade de outros, de nenhuma maneira homem algum pode triunfar sobre o outro. Segundo Hobbes, os homens viviam sem poder e sem organização, que surgiram so-mente depois de um pacto firmado por eles, estabelecendo as regras de convívio social e de subordinação política.. Sem um pacto social, os homens são absolutamente livres e, portanto, têm direito de fazer todas as coisas que quiserem, até tirar a vida de outro para obtenção de vantagens. Essa situação geraria, para Hobbes, a generalização da guerra de todos contra todos, ou seja, a minha liberdade de fazer qualquer coisa e a liberdade do outro de também fazê-lo, aliado ao fato de sermos basicamente iguais, detonaria uma guerra generalizada naqual todos sairiam perdendo. Assim, o pacto é “assinado” entre todos os homens, que em nome da preservação da vida, garantida após a formalização do acordo, abdicam da liberdade de fazer todas as coisas.
NENHUM

HOMEM É

UMA

ILHA
Supostamente, é nesse momento que nasceriam as primeiras regras de convivênciae um primeiro corpo de leis que regulariam a conduta humana. O Estado tal qual conhecemos hoje seria resultado desse primeiro acordo entre os ho-mens. Ao Estado caberia, num primeiro momento, preservar e garantir a vida de todos os homense conseqüentemente a paz social.Para John Locke, outro teórico inglês do sécu-lo XVII, esse pacto de consentimento, em que aspessoas concordam livremente em formar a sociedade civil, teria por objetivo preservar e consolidar o direito à vida, à liberdade e à propriedade que,sob o amparo da lei e do árbitro da força, estariam melhor protegidos
.
Essas são construções ideais, ou seja, ninguém acredita que os homens se sentaram em círculo e resolveram criar as primeiras regras sociais. Essa abstração serve para facilitar a compreensão de como teria surgido esse primeiro conjunto de regras e leis que instituíram o Estado e fundaram a sociedade.Para Karl Marx, filósofo alemão que viveu noséculo XIX, essa teoria nada mais é que a justificativa histórica da constituição de um Estado calcado na dominação de classes. Ou seja, todo esse aparato de leis que regulam a nossa vida em sociedade não passa de um corpo administrativo que gerencia os negócios comuns da burguesia, isto é, dos industriais, comerciantes e outros grandes proprietários. Nas mãos da burguesia, o Estado seria um instrumento para assegurar seus próprios interesses e principalmente garantir a propriedade privada. É a partir da divisão social do trabalho em que cada indivíduo assume uma atividade exclusiva, como caçar, pescar ou trabalhar na fábrica, que aquele que detém a propriedade privada dos meios de produção assume uma dominação sobre os outros. Surgem então duas classessociais, condicionadas pela divisão do trabalho e divididas entre os proprietários das terras e depois das máquinas e aqueles que vendem sua força de trabalho.Obviamente, existem outras teorias que explicam tanto o surgimento das regras sociais como das próprias leis e do Estado. Vários estudiosos pertencentes a diversas correntes do pensamen-to, inseridas em disciplinas como História, Antropologia e Sociologia, se debruçaram sobre essa questão.
Para introduzir esta atividade, converse com osalunos sobre os grupos de convivência dos quais eles participam: família, escola, amigos, igreja, vizinhançae outros. Peça que contem como é essa convivência:pacífica, conflituosa, prazerosa, desagradável...Nessa conversa, fique atento e registre todas as pistas fornecidas por eles para você retomar –problematizando – no decorrer da atividade.Nesse momento, não se preocupe em questionar e aprofundar as idéias dos alunos: incentive-os a falar, ouça-os com atenção e interfira apenas para solicitar maior clareza em sua apresentação.Em seguida, leia para os alunos o texto “Numa ilha deserta”. Estimule o aluno, verifique se compreenderam a história, fazendo-os realmente imaginar que estarão vivendo a situação,detalhando paisagens ou cenários de filmes como Lagoa azul,
por exemplo.Organize grupos e promova o início da atividade, desafiando os alunos a pensar em como sobreviver nesse cenário adverso. Deixe-os à vontade para sentir o desafio e discutir brevementea situação. Se achar necessário, faça perguntas.. Dê um tempo para se organizarem e, em seguida, leia para eles um a um os dois desafios, com um pequeno intervalo, deixandoos novamente livres para refletir sobre cada um.Poderão, se quiserem, fazer anotações em folhas avulsas.Caso eles apresentem dificuldade de desenvolver a atividade, incentive-os com perguntas como: Qual seria a primeira coisa que você diria para o grupo?Como vocês dividiriam as tarefas? Quem caça?Quem cozinha? Como vão se abrigar e proteger contra o frio, chuva e ataques dos animais? No caso de alguém ficar doente, o que fazer? Todas aspessoas devem trabalhar? Como seria a divisão dotrabalho? O que fariam com o lixo produzido aolongo do período em que vivessem na ilha?Incentive-os a usar o espaço da sala de aula pararealizar certas atividades, movimentando-se um pouco. O círculo inicial pode ser o acampamento,onde todos se reúnem e combinam o que fazer e parao qual retornam após a realização das atividades. Observe atentamente as discussões, decisões e ações dos membros do grupo e interfira, sempre ue necessário, problematizando-as, tendo em vista as sete aprendizagens para a convivência.
“Convivência social: uma questão deaprendizagem” apresentado adiante.Incentive-os a imaginar que vão viver nesse lugar,talvez para sempre. Então, é preciso refletir e agir com uma visão de futuro (a atividade perderá muito do seu sentido desafiador, se os alunos se dedicarem apenas a pensar em formas de sair da ilha). Estimule os alunos a serem imaginativos e criadores e evite dar as suas soluções. Discuta como grupo a necessidade de posicionamentos firmes,em caso de reiterado descumprimento de acordos.Pode ser que os alunos se envolvam bastante e aatividade se estenda por mais tempo do que o planejado por você. De qualquer forma, após arealização da atividade, é interessante promover uma reflexão. Uma delas diz respeito à necessidade de liderança para organizar a convivência, que pode suscitar interesse, pois é um tema bastante candente na vida cotidiana deles. Nesse caso, é importante ressaltar que a liderança, numa perspectiva democrática, não deve estar incorporada numa única pessoa: é um lugar que pode ser ocupado por diversos atores em diferentes momentos. É a habilidade e a competência de cada um que define quem vai ocupar o lugar de líder, neste ou naquele processo. Algumas pessoas têm habilidades administrativas, enquanto outras são mais articuladoras. Há pessoas muito criativas, enquantooutras são mais empreendedoras. Enfim, cada um tem uma habilidade e capacidade que pode servir para liderar uma situação, dependendo do desafioa ser enfrentado. Mas, não se esqueça, cada habilidade pode ser aprendida: não é porque umapessoa não fala em público que não pode aprender; e quem não é muito organizado pode aprender a sê-lo.Por fim, esse é o momento para você retomar suas observações e explicitar aspectos importantes que não tenham sido considerados por eles.Promova a leitura coletiva do texto“Viver uns com os outros, em vez de uns contra os outros”. Ajude-os a estabelecer relação entre esse texto e a atividade que acabaram de fazer. Anote as principais conclusões da atividade e peça que os alunos a registrem na folha.

CONVIVÊNCIA

SOCIAL:

UMA

QUESTÃO

DE

APRENDIZAGEM
O educador colombiano José Bernardo Toro (1995) afirma que “a convivência social, por não ser natural, requer aprendizagens básicas que devem ser ensinadas, aprendidas e desenvolvidas todos os dias”. E estabelece sete regras básicas para a convivência social. São estas regras que devem orientar o educador no encaminhamento da atividade “Ilha deserta”
1-“APRENDER A NÃO AGREDIR O OUTRO”.Oshomens precisam ser ensinados a não agredir,nem física nem psicologicamente, os outros sereshumanos. Não devemos aceitar com normalidadexingamentos, espancamentos, homem que bate em mulher, irmão que desconhece irmão, polícia que agride cidadão, briga de gangues, torcidas uniformizadas que se agridem mutuamente, aviolência no trânsito, as discriminações, a fome,as guerras ou a
injustiça
. O que está por trás da valorização da não-agressão é o princípio da vida. Ao valorizar a minha vida e a do outro,estou valorizando a humanidade.
2-“APRENDER A COMUNICAR-SE”.As pessoas devem exercitar a comunicação: é o pressupostopara o entendimento, para o acordo, para a resolução de conflitos e para a convivência. Po rmeio da comunicação constrói-se uma nova visão de mundo e um novo “jeito de olhar”. As linguagens oral, escrita, artística devem ser entendidas como instrumentos para se viver melhor.
3-“APRENDER A INTERAGIR”.Interagir é agir em sintonia com o outro, aprendendo a concordar e discordar sem romper a convivência. Respeitar asconvicções políticas, religiosas, a condição social, a situação econômica, o time de futebol,o jeito de vestir, de pensar e de agir do outro.
4-“APRENDER A DECIDIR EM GRUPO”.Decidir as coisas em grupo é mais difícil do que decidir sozinho. O exercício da democracia não é fácil e exige muita disciplina; no entanto, são inúmerasas vantagens de se decidirem as coisas em grupo. O comprometimento coletivo, a certezade que todos puderam ser considerados, a rapidez e eficiência nos resultados são exemplos dessas vantagens.
5-“APRENDER A SE CUIDAR”.
“Respirar bem fundo e devagar, que a energia tá no ar. Bom é não fumar, beber só pelo paladar, comer de tudo que for bem natural, e só fazer muito amor, que amor não faz mal”
(Joyce, cantora ecompositora da música popular brasileira).Novamente, estamos falando da valorização da vida. Cuidar do corpo, da mente e do espíritoé sinal de respeito consigo mesmo. É preciso valorizar os hábitos de higiene, a prevençãocontra doenças, valorizar o hábito de não fumar, valorizar a prática de esportes e de lazer.
6-“APRENDER A CUIDAR DO LUGAR EM QUE VIVEMOS”. Os seres humanos vêm historicamente destruindo todos os recursos daTerra. A contaminação dos rios e dos mares, apoluição do ar que respiramos, a extração descontrolada dos recursos minerais, a devastação das matas e a extinção de algumas espécies de animais são exemplos da destruição dos recursos da Terra. Ao mesmo tempo que devemos compreender por que e para que alguns homens estão destruindo esses recursos,devemos lutar pela preservação deles. O que está por trás dessa luta é o compromisso ético com nossa vida e com a das futuras gerações. Cuidar do lugar onde vivemos não se restringe apreservar os recursos da Terra: é no cotidiano que cuidamos da nossa casa, da nossa rua, dos equipamentos públicos como escolas, hospitais,praças, parques, telefones públicos.
7-“APRENDER A VALORIZAR O SABER SOCIAL”.Quando nascemos, muitas coisas já estão dadas,ou seja, já existe um conjunto de regras, valores,práticas culturais e tradições que formam ahistória do grupo social. É assim que o conhecimento produzido por uma geração dehomens e mulheres é “transmitido” para asgerações futuras e partilhado com elas. Por meioda família, da escola, da comunidade, da igreja,dos meios de comunicação é que acessamos ecompartilhamos esse conhecimento acumulado.Temos de aprender a valorizar o saber social, masdevemos utilizar a reflexão ética para questionaras regras, valores e práticas culturais que nos foram passadas de uma geração a outra.

Vide mais em http://pt.scribd.com/doc/54173897/Educacao-e-Cidadania-Modulo-03-Justica-e-cidadania

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