quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Professor, trabalhar e manter a saúde

É com o alto número de horas-aula diárias, com o pouco tempo de descanso
e lazer, com a pressão por resultados e a ameaça do desemprego que a relação
entre o trabalho e a saúde passa a ser de difícil conciliação: ora há muito trabalho
e pouca atenção para a saúde, ora a atenção à saúde se impõe e ameaça eliminar
o trabalho, como podemos observar na história desta professora:
Durante dez anos da minha vida eu trabalhei sessenta horas [semanais],
manhã, tarde e noite. Trabalhava no Estado quarenta horas e mais vinte
horas no particular. Então era uma rotina de correria. [...] Um dia eu entrei
numa sala de aula de um primeiro ano, conversei com todo mundo, essa coisa
gostosa nossa, da nossa profi ssão, e eu comecei a dar aula. E eu tava dando
aula de números complexos e muito entusiasmada e o pessoal todo, uns
quarenta alunos, me olhando assim... Tinha alguma coisa errada... Quando
eu olhei pra trás, eu disse: “Pessoal essa aqui é a turma cento e doze?”. Aí
todo mundo: “É”. “Não é a trezentos e doze?” “Não.” Aí eu tava dando
uma aula de terceiro ano no primeiro, mas isso tinha se passado mais de
trinta minutos e ninguém tinha me interrompido! Aí eu cheguei pra eles e
pedi: “Gente, apaga tudo. Apagou? Vamos rasgar as folhas. Isso não é nada
pra vocês”. Isso me deu um alerta. Em casa, conversei com o meu marido e
ele disse assim pra mim: “Acabou essa correria louca. Nós não precisamos
disso. Nós podemos nos virar, é só recondicionar nossa vida fi nanceira”.
Naquele ano, me demiti do Estado. Fiquei só com o particular. Eu posso
dizer para vocês, depois que eu passei esses dez anos trabalhando feito uma
louca, que me deu uma pane mental. Nesse momento pane que eu resolvi
parar, comecei a ter crises de enxaqueca muito seguidas. Mas eram enxaquecas
de ir parar no pronto socorro, tomar [medicação] na veia etc. Um
dia, o médico, já na terceira vez que ele tava me atendendo, disse para mim:
“Olha, eu estou te chamando aqui para te dizer para providenciar algumas
mudanças de estilo de vida, porque tu estás ficando viciada em analgésicos.
Eu não posso mais te dar os analgésicos”. E aí eu tive que tomar realmente
providências sérias quanto à minha saúde. Cortar os analgésicos, procurar
uma medicina alternativa de acupuntura, tive que começar a ir à nutricionista,
tive que fazer um esporte, aí fui fazer karatê, que é toda uma fi losofi a
de vida junto. Comecei a fazer meditação... E assim foi dois anos para o meu
organismo se readaptar. É uma luta pessoal. E eu ainda me reservo o direito
de ir umas duas vezes por semana à massagem para conseguir relaxar. Senão,
vou começar a ter contratura, contratura... É um investimento, é caro.
Leva uma boa porcentagem do meu salário nisso. Mas eu me permito. Então
o professor, ele tem uma carga... Eu sei. A minha saúde, eu tive que optar.

Um comentário:

Colégio disse...

Vide documento completo http://www.fundacentro.gov.br/ARQUIVOS/PUBLICACAO/l/Professores%20RS.pdf