domingo, 18 de setembro de 2011

O Cotidiano da Escola

Conto selecionada para participar do Conmcurso de Contos do Projeto Época na Educação
Estado do Rio de Janeiro
PREFEITURA MUNICIPAL DE RIO BONITO
Secretaria Municipal de Educação e Cultura
Espaço Municipal de Ensino Supletivo – EMES



Rio Bonito, 15 de setembro de 2011
Carlos Henrique Manhães Teixeira.


O cotidiano da escola

Hoje, passei por momentos de saudosismo da minha vida estudantil. Pois aos quarenta e seis anos de idade, com pinta de professor em fase de aposentadoria, estou cursando com muito orgulho o terceiro ano do ensino sup... [ ] ...deu um nó na garganta... Como ia dizendo: terceiro ano do ensino supletivo. O ensino supletivo está me causando certa estranheza e aproveito a ocasião para compartilhar as minhas alegrias e frustrações de aluno, a você amigo leitor que já perdeu alguns segundos do seu precioso tempo.
O ensino supletivo por módulos é diferente de tudo que eu já vivi na minha extensa carreira acadêmica, pois utiliza a metodologia do aluno é quem escolhe tudo. Confesso que estou me sentindo um peixe fora d’água, pois é muita responsabilidade poder escolher o dia em que eu vou ter aula, escolher o dia em que eu vou fazer a prova, escolher até a prova que eu queira fazer. Estou pisando em ovos, pois eu nunca imaginei como aluno não poder matar uma aulinha, não poder elaborar uma desculpa esfarrapada para justificar a falta no teste ou poder colocar um apelido no CDF da turma, simplesmente porque não existe uma turma; o que existe são duas cadeiras, uma mesa, o professor e eu.
Pra desestressar, resolvi olhar uma foto quando estava cursando a segunda série primária... Quanto tempo se passou e parece que foi ontem! Essa foto é do tempo em que o kichute era o tênis da moda. O kichute foi o tênis mais versátil que já conheci; ele era tanto esportivo, quanto social; dependendo da forma em que fosse amarrado; podendo ser na canela ou enrolado na sola. A tal foto levou meus olhos as lágrimas, pois lá estava eu fazendo pose para a tradicional foto escolar. Uma mão sobre a outra, carinha de menino comportado sentadinho atrás de uma mesinha de escritório decorada com uma bandeirinha do Brasil e com um telefone branco, o qual até hoje não sei o porquê dele ali. Minto! O meu irmão mais velho tirou uma foto igual, mas resolveu tirar uma onda (de manezinho), fazendo pose de importante, simulando falar com alguém do outro lado. Como miséria pouca é bobagem, nossa mãe fazia questão de mostrar para todo mundo a tal foto e comentar: “ele está dizendo alô”.
Aproveitando essa terapia, quero confessar um pecado capital que eu possuía: eu morria de inveja dos vizinhos que estudavam em colégio particular; não pela rotina aplicada, mas pelos uniformes maneiros. Short cor vinho e camiseta com uma logomarca estampada, que coisa inesquecível; enquanto a minha camisa tinha um humilde bordadinho feito pela minha mãe, com duas letrinhas; mas havia um diferencial: a esperança de poder ter as divisas colocadas na manga da tal camisa, fazendo parecer um soldado. Ah, tem mais! Eu tirava a maior onda com eles quando falava dos sanduíches que levava para merendar: pão com banana, pão com ovo frito, pão com mariola e para fechar com chave de ouro este banquete precursor do Mc Donald: o famoso pão com língua. Era quando os recheios acabavam e ia pão puro mesmo.
A famosa hora do recreio é uma hora sagrada e tremendamente feliz. Algumas vezes, quando pintava um dinheirinho, eu comprava o famoso pastel de queijo da dona Naná; o qual eu dava uma mordida para sair o bafo quente de dentro e colocava o olhão para contemplar o recheio o qual não tenho lembrança de tê-lo visto algum dia. Mas isso não vem ao caso, pois o que realmente importa era estar no recreio e enfrentar a tal fila; mesmo que demorasse tanto para ser atendido ao ponto de não ter tempo para a degustação.
Outra coisa muito comum a qualquer aluno é alguma marca deixada por uma professora especial. Veio nitidamente a minha mente a figura da dona Íris, a minha professora de bigodes (aprendi mais tarde que é buço), que tinha uma cara de marrenta, mas era legal e mesmo afirmando estar em forma, eu deduzia que ela pesava uns cem quilos. A dona Íris me espremeu como se eu fosse uma banana, pois resolveu tentar passar comigo na porta estreita da sala de aula. Tudo por um medo de uns marimbondos que eu derrubara do pé de ingá.
A imagem mais linda que todo aluno carrega é da primeira namorada da escola; a minha chamava-se Bianca, uma menina linda de Maria Chiquinha e que até hoje nunca soube desse nosso namoro.








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